Manhã.
Pelas brechas da persiana, a luz entra em rasgos, num resgaste ao que a noite se esqueceu. Quem sou eu para questionar os porquês?
Vejo a timidez com que o sol espreita, e mantenho o silêncio – calo a voz e os pulmões, os músculos e os lençóis, a leveza dos movimentos. Talvez na quietude, ele avance sobre mim e me aqueça onde o sangue já não tem calor para dar.
Dou por mim entre desejos. O calor com que sonho é abstracto, impreciso, metafísico, mas não falacioso; A ânsia existe, porque existe o por que ansiar. Contudo, perante os rasgos de luz, reduzo-me à essência: serei receptor? Serei capaz, quando a persiana subir e os rasgos crescerem e o contraste morrer, de reconhecer a efemeridade do que me aquece?
Deixe uma Resposta