O treino de um cão começa da forma mais trivial concebível: descobrindo-se o que o motiva o bicho; o que o faz mexer; o que o leva a quebrar o equílibrio do conforto, da estagnação.
Se, como na maioria, o que o motiva é a comida – essa necessidade primária, tão competente a desencadear reacção – então facilitaram-nos a vida.
Já não teremos que instruir-nos de muito mais; resta-nos aprender a controlar os alimentos – quando surgem, como surgem, porque surgem – e assim, como um burrito atrás da cenoura que teima em afastar-se com ele, temos o controlo do movimento.
E, no fundo, movimento é tudo.
Com os sentidos sintonizados no mesmo comprimento de onda, o bicho move-se com a nossa mão, indiferente ao que o resto do mundo lhe tem para oferecer.
E eu, no meu despertar racional, atraio-o até mim e levanto a mão para que ele a siga, levantando ele a cabeça. A cegueira é tal, que o bicho esquece-se do próprio corpo e desequilibra-se, caindo num “senta!” confuso, de quem não sabe onde aterrou.
Mas e se a comida não funcionar? Se ele erguer o narizinho, der duas snifadas e, ciente das nossas intenções, mandar-nos a nós comer?
Talvez aí, o mais sensato seja recorrer à literatura popular e aceitar que o melhor é vermo-nos livres desse bicho atípico e arranjar um novinho, a salivar de fome, porque cão velho, não aprende novos truques.
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