Crónicas para dormir (VIII)

De dia, vergo-me sobre os exuberantes recomeços.
Na noite, vergo-me menos – são cores diferentes, as que pintam no escuro.
Sei que as voltas se dão;
Que o tempo, descrente de si, muda a todo o momento.
Mas perdurará este medo?
Não de ir ou ficar, mas de nunca ir, de nunca ficar.
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Sonhava com quartos escuros, em miúdo.
Sonhava com interruptores que se riam de mim, ao pressioná-los;
Com camas que me engoliam, ao deitar.
Sonhava com berros que não tinham fim, começando num folgo e nunca terminando.
São seres abstractos?, perguntei.
Qualquer algo que não a ausência de sentido.

Descobri falácias no movimento –
A dança a que as pernas se entregam.
Argumentum ad metum.
Pelo que agora, quando me movo,
Quando rasgo o que segrega o real do imaginário,
Quando percorro a metade da metade da metade ad infinitum;
Não é a inércia que me amedronta,
Nem o movimento, que nunca o fez.
Nunca ir, nunca ficar,
Não exige movimento ou inércia.
Ir ou ficar,
Exige mutações.
E num mundo sem genes,
Sem vírus, sem histonas e transcrições;
Onde mutam os organismos?

Descobri que os quartos escuros não contaminam;
Que os interruptores não riem;
Que as camas não engolem.
Ao invés, eu rio, engulo. Eu contamino e,
Nestas ampliações,
Nestes registos megalómanos egocentristas que desafiam qualquer condição biológica,
É consciente que aceito que o passado não tem posição fixa.
Posso ter todos os anos, todos os dias, a todos os momentos.
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