longitudes. (XVII)

À parte de todos os meus complexos,
Sou um corpo perfeitamente simples.
Tenho iguais membros a qualquer autómato,
As mesmas raízes que prendem as árvores,
O destino do universo.
Não me peçam descrições do resto.
Tudo o que sei resume-se a isto:
Lá fora faz mais frio do que cá dentro.
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Reconheço estes escuros recantos onde me perco;
Foi sempre aqui que retornei para esquecer as desavenças.
O mundo enorme, o pequeno eu.
Perdura ainda neste quarto, neste útero inupto,
Algo dessa fome, dessa oprimida aflição.
No ar, ainda sinto, o levitar dos mundos éticos.
Foi neles que me perdi; o desfiar que iniciou
Nessa pueril ponta solta.
Vive aqui um universo que se lembra,
Só não recorda os pormenores.
Um composto temporal em que me enleio –
Propenso no início, agora hostil e saturado.
Ainda ontem era uma criança; nunca pensei ver-me crescer.
Hoje, já adulto, contento-me:
Nunca serei maior do que este quarto.
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