Categoria: literatura
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iv
Toco-te. Talvez essa seja a mais estranha das coisas. Por vezes olho-te, mas não sei se te vejo; interpreto a tua imagem, o que surge nas idas e voltas dos olhos para o cérebro e do cérebro para os olhos, na fronteira do real e do fantástico, do sano e do insano.Por vezes ouço-te, mas…
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iii
O som da torneira, ainda aberta, concentrou-me na realidade. Observei-a – a água – aguardando que me limpasse os pensamentos. Encontrei algo intrigante naquele pilar uniforme e ininterrupto de água: uma imagem parada daquele pilar, ou a realidade do sistema dinâmico que é – onde a água que aterra no lavatório de falsa cortiça equilibra-se…
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ii
Toda a vida, morre. Tudo o que inspira o sôfrego momento da vida – essa partícula divina que quebra a beleza do eterno, a perfeição do mundo não vivo – condena-se ao mesmo fim. O mais belo dos planetas, assim como o mais desfigurado dos insectos, têm a mesma semente, que existe até não existir…
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i
Deitado de olhos abertos, na solidão do silêncio, encaro a escuridão de frente, como um eterno arqui-inimigo, o canto de onde surgem os demónios. O conceito de inesperado atormenta-me desde cedo, pelo que, a escuridão – com as suas características místicas, com a sua capacidade de esconder qualquer forma, qualquer cor – sempre me aterrorizou.…